DOI: http://dx.doi.org/10.18273/revion.v28n2-2015006
Jenny Sobenes G.*; Ranulfo M. Alegre
Departamento de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Cidade Universitaria
"Zeferino Vaz", Rua Monteiro Lobato, 80, Zip Codigo:13083-862, Campinas, SP, Brasil.
*jennysobenes@gmail.com
Fecha Recepción: 07 de diciembre de 2014
Fecha Aceptación: 22 de junio de 2015
A goma xantana é um biopolímero microbiano producido pela bactéria Xanthomonas. O presente trabalho teve como objetivo estudar a produção de goma xantana por processo fermentativo utilizando a linhagem X. campestris ATCC 13951 e como fonte de carbono: soro de queijo desproteinado suplementado com extrato de levedura e sulfato de amônia como fontes de nitrogênio; soro de queijo desproteinado suplementado só com extrato de levedura como fonte de nitrogênio e só soro de queijo desproteinado sem suplementos, tempo de fermentação de 72h para os três meios. Dos meios em análise aquele constituido apenas por soro de queijo desproteinado, atingiu o maior rendimento com valor de 58% e a melhor qualidade de goma.
Palabras-chave: goma xantana, soro de leite, xanthomonas campestris.
Xantan gum is a biopolimer produced by bacteria from the generous Xantomonas. The objective of this work was to study the xantan gum production using the X. campestris ATCC 13591 and deproteined cheese whey, deproteined cheese whey supplemented with yeast extract and deproteined cheese whey supplemente with yeast extract and ammonium sulphate as nitrogen source during 72 hours of fermentation. The best result was found when the medium was not supplemented, reaching yield of 58% and good quality of the gum.
Keywords: xanthan gum, milk whey, xanthomonas campestris.
La goma xantana es un biopolímero microbiano producido por la bacteria Xanthomonas. El presente trabajo tuvo como objetivo estudiar la producción de goma xantana por proceso fermentativo utilizando linaje X. campestris ATCC 13951 y como fuente de carbono: suero de queso desproteinizado adicionado de extracto de levadura y sulfato de amonio como fuentes de nitrógeno; suero de queso desproteinizado adicionado solo con extracto de levadura como fuente de nitrógeno y como tercer medio el propio suero de queso desproteinizado; tiempo de fermentación de 72h para los tres medios. De los medios evaluados aquel constituido únicamente por el propio suero de queso desproteinizado, alcanzó el mayor rendimiento con un valor de 58% y la mejor calidad de goma.
Palabras clave: goma xantana, suero de leche, xanthomonas campestris.
Cita: Sobenes J, Monte Alegre R. Producão de goma xantana por X. Campestris ATCC 13951 utilizando soro de queijo desproteinado. rev. ion. 2015;28(2):69-77.
Os biopolimeros são macromoléculas formadas
por monossacarídeos e derivados ácidos, podendo
ser sintetizados por bactérias, fungos e leveduras
e devido as suas características reológicas,
encontram ampla aplicatividade em processos
industriais.
A goma xantana é um biopolimero produzido em
processos fermentativos por micro-organismos
do gênero Xanthomonas espécie X. campestris,
sua estrutura consiste em uma cadeia principal de
(1,4) β-D-glicose com estrutura muito parecida a
da celulose [13].
A esta cadeia principal de glucano, correntes
laterais de trissacarídeos estão ligados
alternadamente, através de O-3 (D-glicose da
cadeia principal) ao C1 do primeiro resíduo
β-d-manose. Um grupo de piruvato está ligado
às posições 4 e 6 desta unidade de manose
terminal, a presença de acido pirúvico representa
aproximadamente 60% da molécula, conferindo
a goma muitas das suas propriedades únicas de
viscosidade, extraordinária resistência a hidrólise
e propriedades de uniformidade física e química.
A presença da cadeia lateral na estrutura deste
polissacarídeo permite a completa hidratação dele
em agua [4,6].
Aproximadamente 50000Ton de goma
xantana são produzidas anualmente das quais
aproximadamente 40% é utilizado pela industria
de alimentos como estabilizante pelas diversas
características e vantagens reológicas que
apresenta [6,17], ganhando quase um quarto do
mercado Norte Americano [10,16].
Na atualidade a xantana é um dos biopolimeros
de maior produção comercial, seus custos de
produção são conduzidos pelo rendimento do
polímero em relação a quantidade de fonte de
carbono necessário, bem como por exigências de
processamento [9,10,16,18].
Estudos de otimização do rendimento e
produtividade dos processos fermentativos para
produção deste polissacarídeo representam na
atualidade um constante desafio.
Geralmente a produção de goma xantana é
maior quando as bacterias se desenvolvem num
meio simples constituido de glicose, sais, fontes
de nitrogênio, e melhorada com a adição de
pequenas quantidades de ácidos orgánicos [2,15].
Mas atualmente a produção da goma xantana em
escala industrial, tenta utilizar fontes de carbono
alternativas visto que o uso de glicose e sacarose
fazem com que o custo de produção seja elevado.
O soro de leite é um dos meios alternativos que
apresenta resultados satisfatórios na produção
deste polissacarídeo, uma vez que contem
elevada quantidade de lactosa e quantidades
adequadas de nitrogênio, entre outros fatores
propícios para produção de goma xantana por
processo fermentativo com X. campestris.
O presente trabalho teve como objetivos estudar
o processo de produção de goma xantana por
linhagem X. campestris ATCC 13951, utilizando
soro de queijo desproteinado como meio de
cultivo, estudando o efeito da concentração de
lactose, extrato de levedura e sulfato de amônio
na produção de goma xantana.
Micro-organismo
O microorganismo utilizado foi a linhagem de X.
campestris ATCC 13951, obtida da Coleção de
Culturas da Fundação Tropical de Pesquisa e
Tecnología André Tosello, Campinas - São Paulo.
Meio para manutenção do micro-organismo
Para o processo de repicagem foi utilizado meio
Agar Nutriente do qual após diluição foram
adicionados 10 mL em tubos, os quais foram
esterilizados (121°C/15min). Os tubos inoculados
posteriormente em meio aséptico com o microorganismo
X. campestri ATCC 13951 foram
mantidos em estufa por 72h, a temperatura de 30°C
e conservados posteriormente em refrigeração a
4°C.
Inóculo
No preparo do inoculo, frascos de Erlenmeyer
de 500mL contendo 100mL de meio previamente
esterilizados (121°C/15min) foram inoculados
com alça de cultura do micro-organismo em
meio semi sólido e incubados em condições de
29°C/180rpm/24h.
Meio de cultura e reagentes
O meio de cultura utilizado foi soro de queijo,
este foi adquirido em pó da empresa Alibra
cuja composição é mostrada na Tabela 1, foi
reconstituído a diferentes concentrações, e
acrescentado de extrato de levedura e sulfato de
amônio como fontes de nitrogênio.
O soro a ser utilizado foi desproteinado (pH 4,3
a 93°C) e hidrolisado, acrecentado de extrato
de levedura - 3g/L, (NH4)SO4 - 1,5g/L, KH2PO4
(20g/L), MgSO4 (6g/L), ZnSO4 (2g/L) pH corrigido
a 7,0 con NaOH 2N.
Produção de goma xantana
Frascos de Erlenmeyer de 500mL contendo 90mL
de meio foram hidrolisados, inoculados com
10mL do pré-inóculo, pH do meio corrigido a pH
7. A fermentação dos frascos foi feita em Shaker
(TECNAL mod TE 421) 29°C/180rpm/72h.
Do meio de fermentação foram retirados 20mL
de amostra a cada 24h para determinação de
pH, produção de goma xantana, produção de
biomassa e lactose consumida.
Otimização da produção de goma xantana
através de Delineamento central composicional
rotacional (DCCR)
Para o estudo da influência das variáveis foi
utilizado um planejamento experimental 23
completo, com tres pontos centrais (nível 0) e
seis pontos axiais (níveis ± a) totalizando 17
ensaios, onde as variáveis independentes foram:
concentração de lactose, concentraçao de extrato
de levedura e concentração de sulfato de amônio.
As respostas estudadas foram: goma xantana
produzida (g/L), produção de biomassa (g/L) e
lactose consumida (g/L). Para comprovar o melhor
resultado obtido do planejamento, foram feitos
ensaios com três repetições.
A Tabela 2 apresenta os valores utilizados para
cada uma das variáveis no planejamento.
Recuperaçaõ da goma xantana do meio
fermentado
A goma produzida foi precipitada com etanol
99,5°GL [3], a massa celular foi separada por
centrifugação 6.000rpm (2.300g) e a secagem foi
feita em estufa a vácuo a 110mmHg e 60°C, até
peso constante.
Produção de goma xantana através de
Delineamento composto central rotacional
em meio constituído de soro de queijo
desproteinado, extrato de levedura e sulfato de
amônio
Na Tabela 3 são mostrados os resultados de
produção de goma após 72h de fermentação,
utilizando sulfato de amônio como fonte adicional
de nitrogênio, assim também os resultados de
produção de biomassa, os valores de lactose
consumida e os valores de pH.
Em uma análise geral dos dados da Tabela 3 em
quanto a produção de goma após 72h, observase
que para aqueles ensaios com baixas
concentração das fontes de nitrogênio (sulfato de
amônio e extrato de levedura) obteve-se maiores
valores de produção de goma, ao redor de 18±1
(g/L). A goma obtida nestes ensaios apresentou
ademais maior textura, foi mais consistente e
muito, mas elástica.
Segundo Souw e Demain [14] quando o carbono e
o fósforo são nutrientes limitantes, a produção de
goma xantana aumenta
Após análise estatística do planejamento experimental (DCCR), e segundo o observado na Figura 2 das superficies de resposta, observase que para os três componentes do meio de cultura podese utilizar concentrações minimas ou máximas para obter boa produção de goma xantana, pelo qual optou-se por utilizar baixas concentrações a fim de reduzir custos de processamento.
Considerou-se então que a melhor composição
do meio para produção de goma, seria o ensaio
denominado apartir de agora como A, com as
concentrações mais baixas de lactose e extrato de
levedura e concentração intermediária das fontes
de nitrogênio (44,3 e 1,5g/L). Alguns artigos sobre
produção de goma xantana coincidem em sinalar
uso de concentrações de entre 40 - 43g/Kg para a
fonte de carbono [1,2,11].
Foram feitas analises da produção de goma
xantana, biomassa e lactose consumida a cada
24h como mostrado na Tabela 4.
Após 72h de fermentação, a produção de goma
no meio com sulfato de amônio apresentó valor de
20,28g/L, rendimento de 50% e produtividade de
0,28gL-1h-1.
A concentração da fonte de carbono afeta a
eficiência da conversão em polissacarídeos,
sendo relatado na literatura que concentrações
entre 1 - 5%, dão o melhor rendimento, enquanto
que em concentrações mais altas, o rendimento
do produto decresce [8].
Produção de goma xantana excluindo do meio
de cultivo as fontes adicionais de nitrogênio
Baseados nos resultados dos ensaios anteriores
onde se obteve boa produção de goma, a baixas
concentrações das fontes de nitrogênio, foram
realizados testes com meios não suplementados
com sulfato de amônio nem extrato de levedura.
A Tabela 5, mostra os resultados de produção de goma xantana, produção de biomassa, assim como os valores de lactose consumida e lactose remanescente após 72h de fermentação para o meio contendo soro desproteinado suplementado com extrato de levedura. Os ensaios 4 e 5 tiveram os maiores resultados de produção de goma, com 23,28g/L, rendimentos de 29% e 27%, respectivamente, e produtividade de 0,32gL-1h-1, no entanto, a quantidade de lactose remanescente no meio foi bastante alto. O ensaio 1 pela sua ves, reportou produção de goma de 18,72g/L, rendimento de 46% e elevado consumo de lactose no meio, o qual deixa um resíduo menos poluidor.
A Tabela 6 mostra os resultados obtidos utilizando meio constituído apenas por soro de queijo desproteinado, observa-se que independente da concentração de lactose utilizada para produção de goma, foram obtidas cerca de 20g/L após 72h de fermentação valor próximo aos obtidos nos meios suplementados (Tabela 4). A produtividade obtida foi de 0,27gL-1h-1. Em termos de rendimento o ensaio 1 obteve maior valor 58%. Pode-se concluir que a suplementação do soro é desnecessária, não havendo também a necessidade de concentrar o soro, uma vez que em concentrações altas de lactose não se obteve maiores produções de goma e a lactose remanescente no meio também é alta. Assim, a utilização de baixa concentração de lactose, além dos benefícios econômicos, traz também o benefício ao meio ambiente, visto ser o efluente menos poluidor.
A Tabela 7 resume os resultados de produção
de goma, produção de biomassa e lactose
consumida, obtidos nos ensaios A (soro de
queijo desproteinado suplementado com extrato
de levedura e sulfato de amônio), B (soro de
queijo desproteinado suplementado com extrato
de levedura) e C (soro de queijo desproteinado
sem suplementação), a produção de goma em
72h de fermentação para cada ensaio foi de
20,28g/L, 18,72g/L e 19,68g/L respectivamente,
com produtividades de 0,28gL-1h-1, 0,26gL-1h-1 e
0,27gL-1h-1.
A concentração do ensaio A foi superior em
1,56g/L à obtida no ensaio B após 72h, sendo este
o melhor resultado obtido, o que não se esperava
visto que o meio A teve suplementação de fontes
de nitrogênio. Baixo teor de nitrogênio no meio é
favorável na produção de polissacarídeos [7].
Nos ensaios B e C a produção de biomassa foi
muito baixa mesmo nas diluções feitas no meio.
Enquanto ao consumo de lactose o ensaio C
apresentou o menor valor após 72h, mas a
produção de goma teve o maior rendimento
atingindo valor de 58%, sendo o maior rendimento
de entre os três ensaios em análise. Este mesmo
ensaio após 48h de fermentação, já tinha
produzido cerca de 3g/L de goma mais que os
outros, como pode-se observar na Tabela 7 e na
Figura 3, e além disso apresentou boa qualidade
de goma com rendimento de 55%.
A Figura 4 relaciona a produção de goma xantana
com o tempo de fermentação, mostrando que para
os três ensaios em análise, não houve grandes
diferenças na produção da goma após 72h de
fermentação.
No ensaio A a produção de goma em 48h de
fermentação atingiu 90% da concentração atingida
em 72h e ao redor de 3,5g/L a mais de goma que
nos outros ensaios, mas mesmo assim, não foi
o melhor meio em termos de custos pois ele foi
suplementado com fontes adicionais de nitrogênio.
O ensaio C não teve suplementação nenhuma e
mesmo assim em 48h de fermentação foram
obtidos bons resultados, após 72h este ensaio atingiu
produção de goma de 19,68 (g/L) o maior rendimento
com 58% e produtividade de 0,27gL-1h-1, além de
boa qualidade de goma. Nitschke et al. [5]; no seu
estudo utilizando soro de leite para produção de
biopolímeros pela cepa Xanthomonas campestris
C7L obteve produção de 14,70g/L de goma
xantana a 200rpm/28°C/72h; entanto que Silva e
Treichel [12], obtiveram produção de 25,40g/L de
goma xantana pela cepa Xanthomonas campestris
1230, a 180rpm/28°C/72h.
A produção de goma xantana por X. campestris
ATCC 13951, utilizando soro de queijo
desproteinado e hidrolisado, não necessitou de
suplementos de extrato de levedura e sulfato
de amônio, porque o próprio soro supriu todos
os nutrientes necessários à bactéria, inclusive
nitrogênio.
A utilização de soro de queijo concentrado como
meio, não aumentou a produção de goma xantana,
pelo contrário gerou na maioria dos casos, valores
baixos de produção de goma, diminuição pouco
acentuada do pH e elevadas quantidades de
lactose no meio ao final do processo.
Embora a concentração de goma xantana obtida
a partir de soro de queijo não seja tão alta quanto
às gomas obtidas utilizando fontes de carbono
convencionais, este processo torna-se atraente
porque o soro de queijo é um subproduto de
baixo valor agregado e a goma xantana tem larga
aplicação industrial em alimentos.
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